domingo, 19 de outubro de 2008

conquistas


Já fui chata, já fui legal demais e já fui eu mesma também. Acho que não deu certo. Na conquista somos quem queremos ser - honestos, amigos, sinceros, humanos. Cada um escolhe seu tipo, cada hora veste uma roupa, cada vez uma armadilha. E assim, vale tudo. Vale dizer um trecho de um livro ou a letra de uma música, vale roubar a cena, ser um ator, um poeta um autor. Vale fingir gostar de estrelas, de ganhar flores de ficar em casa vendo um filme e comendo pipoca. Vale acordar cedo, correr no parque, andar de bicicleta, ver uma exposição de arte ou uma peça de teatro. Vale pegar um trem, vale ir de metro, vale gostar de rock, pop, reggae e hip hop. Vale viajar para um lugar estranho, dançar na chuva, beber um pouco e depois da conquista, não vale mais nada, ficamos tão nós mesmos que fica tudo muito chato.

O defensor

Dia cheio... Parei para almoçar às 4 horas da tarde com uma amiga, nesse horário o que nos restava era somente fast food. Como precisava subir a serra para passar o final de semana com minha família, peguei um lanche (desses que vem com picles, acompanhados por fritas e refrigerante) e parei em um dos canais que cortam a cidade de Santos.
Esfomeada comecei a devorar o meu almoço quando minha amiga, como sempre mais atenta do que eu, chamou-me a atenção para o que estava acontecendo do outro lado do canal.
Quando direcionei o meu olhar vi um carro esportivo, enorme, com um ferro na frente e um pneu atrás tentando entrar em uma vaga que nem o menor dos carros populares caberia, no entanto esse não era o problema para aquele motorista.
Insanamente ele começou a entrar na vaga e a empurrar os outros carros. Comecei a buzinar, mas o infeliz não parava, achei que o rádio pudesse estar alto, porém quando ele bateu no carro pela sétima vez me veio à certeza de que se tratava de um completo otário.
Quando ele desceu do carro a minha fúria era tanta que aposto que se ele soubesse pensaria muito antes de agir por simples reflexo.
Eu: Ei! Você viu o que você fez?
Ele: Você está falando comigo?
Eu: Você se acha muito esperto, não é mesmo? Você acaba de bater em dois carros populares com o seu humilde carro e tem coragem de agir como se nada tivesse acontecido.
Ele: Você é proprietária de um desses carros?
Eu: Claro que não, mas nem por isso saio por ai quebrando tudo o que não me pertence
Dei o assunto por encerrado, mas ele ainda balbuciou algumas palavras.
Era um sujeito imponente, cheio de razão e que queria me convencer do contrário.
Eu: Com certeza deve ser advogado!
Não demorou muito e este rapaz estava na janela do meu carro querendo continuar a discussão.
Ele: Você tem alguma coisa contra advogados?
Nessa ora senti todos os meus músculos esfincterianos se contraírem
Eu: claro que não, toda minha família é formada em direito e eu sou acadêmica.
O detalhe é que ninguém da minha família é formada em humanas e me esqueci de dizer que era acadêmica de medicina, mesmo com um puta adesivo na traseira do meu carro.
Nessa hora esbocei um sorriso de alívio e ele correspondeu dizendo que era defensor público e que poderia me ajudar caso eu precisasse. Despedimos-nos e quando acabei de comer meu lanche fiz questão de parar ao lado do carro dele e espalhar todo o meu lixo no para brisa junto a um bilhete: “ao defensor público que não defende o patrimônio alheio”.